Regenerar com palavras
E se escrevêssemos com o propósito de regenerar o mundo e o nosso eu? Isto é comunicação regenerativa.

Ao longo da minha carreira, tentei duas vezes mudar de vida, largar a escrita e fazer outras coisas. Da primeira, fui trabalhar para uma prisão. Da segunda, aventurei-me numa marca de biscoitos naturais e saudáveis para cães. Ou seja, as minhas mãos deixaram as canetas e puseram-se a amassar massas para biscoitos numa cozinha industrial. Não me arrependo um segundo. Nem da primeira vez, nem da segunda. Mas por mais que goste e sinta necessidade de fazer outras coisas — as quais aprendi a encaixar na minha vida — uma força maior fez-me sempre voltar à escrita.
narrativas regenerativas
Passei por um processo de interiorização e procura de respostas. Teimei em desviar-me da comunicação. E cada vez que o fazia, lá apareciam escarrapachados os sinais de que eu estava cá era para escrever e comunicar. Lutei interiormente. Até perceber que há amores que nascem connosco, fazem parte do nosso ser. E quando os aceitamos, de repente o horizonte dos porquês fica finalmente claro. É deste nada, desta entrega e aceitação, que chegam sempre as mais belas respostas.
Quando escolhi confiar que a escrita fazia parte da minha marca pessoal, apareceu-me um texto na internet sobre narrativas regenerativas.
Eu nunca tinha ouvido falar deste conceito mas, antes mesmo de ler, já tinha ali a minha resposta: escrever para regenerar. É este o sentido da escrita para mim.
A partir daquele momento, tudo o resto fluiu. Abracei estes meus dois conceitos/slogans: comunicação regenerativa e planeta escrito. E decidi continuar a lutar por fazer da escrita a minha missão.
autoconhecimento
Existe um incrível movimento a nível mundial sobre comunicação regenerativa, culturas regenerativas, agricultura regenerativa, narrativas regenerativas, e por aí fora. Talvez, e inconscientemente, o que me mova seja o mesmo ideal.
Regenerar é alinhamento e autoconhecimento. É reproduzir, recuperar, recomeçar melhor, reorganizar. Quando o nosso eu se regenera, actua como todos os seres do Planeta, como as plantas que se regeneram.
É reconciliarmos-nos com a natureza, termos uma consciência de integração. Não existimos à parte de todos os outros sistemas da Terra. Portanto, tudo o que somos e fazemos está conectado com ela e todos os outros sistemas. Tem repercussões e consequências. E uma simples palavra pode fazer a diferença.
Tudo o que hoje fazemos, pode contribuir para regenerar. Regenerar o nosso eu interior, o outro, a nossa comunidade, a natureza, o Planeta. Encontro esta consciência e propósito em muitos dos textos que me chegam.
Quando edito os conteúdos de uma marca ou de alguém, preocupo-me não só em corrigir gralhas mas, acima de tudo, pergunto-me: este texto faz a pessoa evoluir, auto-expressar-se, conhecer-se melhor, entregar-se, evoluir… regenerar-se?
Podemos construir um texto da mesma forma que uma flor vê o seu caule crescer, ganhar folhas, o botão e finalmente a flor, aberta ao sol. No final, ambos regeneraram.
Não quero com isto dizer que todos os conteúdos tenham de ser bonitinhos, positivos, politicamente correctos. Regenerar é conhecer as feridas, assumí-las, trabalhá-las e evoluir para a cura. Não como um ser individual, mas como ser integrado no todo: na família, na comunidade, no seu público e igualmente no Planeta Terra.
Por isso, sim, podemos regenerar o Planeta quando comunicamos. Ajudar a melhorar o mundo com a escolha das palavras e do propósito de um texto. Seja num artigo nos media, num panfleto de uma mercearia de comércio local ou numa carta de amor a alguém.